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05/12/24

Assédio no ambiente de trabalho

O assédio no ambiente de trabalho é uma das piores situações que podem ocorrer dentro de uma empresa. Saiba o que é e como pode ser prevenido.

O que é o assédio no ambiente de trabalho?

O assédio refere-se a qualquer comportamento que coloque um colaborador em uma situação desconfortável, abusiva ou inconveniente dentro da empresa.

Essa prática pode se manifestar de diversas maneiras e não se limita a ações provenientes de superiores hierárquicos, como líderes ou gestores. O assédio no trabalho pode ocorrer de forma vertical ascendente, quando vem de um subordinado, ou ainda de forma horizontal, entre colegas de mesmo nível hierárquico.

Independentemente da origem, o assédio pode trazer sérios prejuízos à organização, afetando tanto a produtividade quanto a reputação da empresa, além de gerar processos trabalhistas.

Os efeitos do assédio são profundamente negativos, incluindo a queda de desempenho, desmotivação, aumento de absenteísmo e a perda da qualidade de vida no ambiente de trabalho. Em casos mais graves, pode impactar a vida pessoal e a saúde mental do colaborador, comprometendo seu bem-estar geral.

Como se caracteriza o assédio no ambiente de trabalho?

Identificar uma situação de assédio nem sempre é simples, especialmente devido a vestígios de uma cultura em que o chefe é visto como alguém rígido e autoritário, com comportamentos explosivos ou intempestivos.

Do ponto de vista legal, para que uma situação seja considerada assédio, é necessário que ela tenha duas características principais: a recorrência ao longo do tempo e a intenção de prejudicar o colaborador.

A recorrência é fundamental, pois uma única situação isolada pode ser configurada como dano moral, mas apenas situações repetitivas, que ocorrem com frequência, são classificadas como assédio no trabalho.

Além disso, o assédio envolve a intenção de inferiorizar e desestabilizar a vítima. O assediador age com o objetivo claro de prejudicar emocionalmente o colaborador ou um grupo de colaboradores, criando um ambiente hostil e de constante desconforto.

Quais os tipos de assédio no trabalho?

O assédio pode se enquadrar em dois tipos principais: assédio moral e assédio sexual.  

Assédio moral

O assédio moral ocorre quando um colaborador é constantemente exposto a situações de humilhação e constrangimento em seu ambiente de trabalho.

Esse tipo de assédio pode se manifestar por meio de comportamentos hostis, palavras, atitudes, gestos ou qualquer outra ação que cause danos emocionais ao trabalhador, levando-o a uma sensação de desestabilização mental e inferiorização profissional.

Segundo a cartilha de prevenção ao assédio moral disponibilizada online pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), o assédio moral é uma forma de violência psicológica que busca desestabilizar emocional e profissionalmente o colaborador, por meio de ações diretas ou indiretas.

Entre as ações diretas, podemos incluir acusações falsas, insultos, gritos e humilhações públicas.

As ações indiretas de assédio moral são mais difíceis de identificar, mas igualmente prejudiciais. Exemplos incluem a propagação de boatos, o isolamento social, a recusa na comunicação, fofocas e a exclusão intencional do colaborador.

Essas práticas criam um ambiente de trabalho tóxico e sem qualidade de vida, afetando diretamente o bem-estar e a saúde mental dos envolvidos.

Assédio sexual

O assédio sexual no ambiente de trabalho ainda é um tema considerado tabu em muitas organizações, embora seja amplamente reconhecido como qualquer conduta que cause constrangimento com conotação sexual no local de trabalho.

Esse tipo de assédio pode se manifestar por meio de propostas inadequadas, insinuações ou comportamentos que buscam obter favores ou vantagens sexuais.

O assédio sexual pode envolver chantagem ou intimidação. Do ponto de vista legal, ele geralmente ocorre quando há uma relação de poder, ou seja, é praticado por um superior hierárquico ou alguém em posição de autoridade.

A chantagem acontece quando a pessoa assediada rejeita as investidas, e o assediador passa a tomar decisões que prejudicam o trabalho ou a carreira da vítima, com o objetivo de forçar a pessoa a ceder à sua vontade.

Já a intimidação refere-se a comportamentos que tornam o ambiente de trabalho hostil, humilhante e assustador para a vítima, criando uma atmosfera de constante ameaça.

Em alguns casos, o assédio pode envolver tanto aspectos sexuais quanto morais, especialmente quando o assediador, após ser rejeitado, passa a adotar atitudes de exclusão, humilhação e constrangimento contra a vítima.

O que não caracteriza assédio no trabalho?

O assédio é um tema sensível, e, por isso, além de esclarecer o que constitui assédio e as suas implicações legais, é importante destacar algumas situações que não configuram assédio no trabalho.

No caso do assédio moral, é essencial entender que exigências profissionais, feedbacks construtivos e conflitos eventuais não são considerados assédio. Nenhuma relação empregatícia é perfeita e, por mais que a empresa tenha uma cultura saudável, é natural que ocorram situações de conflito. O problema surge quando essas situações se tornam frequentes e ocorrem com a intenção de prejudicar o colaborador.

Assim, um feedback de um superior, desde que seja construtivo e vise a melhoria de processos ou o desenvolvimento do colaborador, não pode ser classificado como assédio. É uma prática comum e necessária para o crescimento profissional. No entanto, é importante que o feedback seja dado de maneira assertiva e respeitosa, evitando que o colaborador se sinta desvalorizado.

Exigências profissionais, como o cumprimento de metas e objetivos, também não configuram assédio. Elas fazem parte da natureza da relação de trabalho, pois são necessárias para a consecução dos resultados organizacionais. No entanto, quando essas exigências vêm acompanhadas de constrangimentos ou de metas irreais e desproporcionais, é necessário analisar a situação com mais cuidado.

No caso do assédio sexual, algumas situações, como investidas, galanteios ou elogios, por mais que possam ser desconfortáveis, não são automaticamente consideradas assédio. O assédio sexual ocorre quando tais atitudes vêm acompanhadas de pressão, promessas ou vantagens, e especialmente quando vêm de um superior hierárquico que exerce uma posição de poder sobre a vítima.

Quais são as consequências do assédio no trabalho?

O assédio gera uma série de consequências tanto para o colaborador quanto para a empresa. Para o colaborador, ele pode comprometer seriamente a saúde mental, prejudicar as habilidades interpessoais e, em alguns casos, afetar também a saúde física. As vítimas de assédio frequentemente enfrentam altos níveis de estresse, ansiedade e até depressão, o que impacta seu desempenho e bem-estar geral.

Para a empresa, o assédio pode ter efeitos devastadores na produtividade, no clima organizacional e na imagem da organização. Um ambiente tóxico, marcado por práticas de assédio, resulta em desmotivação e absenteísmo entre os funcionários, além de gerar riscos jurídicos e prejuízos à reputação corporativa.

A seguir, vamos detalhar as consequências do assédio para ambas as partes da relação de trabalho.

Para a empresa

As consequências do assédio no trabalho para a organização são graves e afetam diretamente seus lucros e produtividade. O impacto pode ser comparado a um efeito dominó, em que um problema inicial acaba desencadeando uma série de prejuízos.

Colaboradores vítimas de assédio frequentemente apresentam fenômenos como absenteísmo, presenteísmo, desmotivação e improdutividade. Esses fatores criam um ambiente de trabalho desfavorável, resultando em menor engajamento e, por consequência, em uma queda significativa na produtividade. Isso também leva a um acúmulo de tarefas entre os demais colaboradores, gerando insatisfação e piorando ainda mais o clima organizacional.

Com o tempo, a situação pode se agravar a ponto de a empresa perder talentos importantes. Quando os colaboradores percebem que suas denúncias não serão tratadas com seriedade, muitos preferem até pedir demissão, o que resulta em aumento da rotatividade e custos elevados com recrutamento e treinamento de novos colaboradores.

Para o colaborador

O colaborador é o principal afetado pelo assédio no ambiente de trabalho, sofrendo as consequências mais severas, que impactam tanto sua vida profissional quanto pessoal. Os efeitos desse tipo de violência atingem suas relações, saúde mental e física, e sua qualidade de vida de maneira geral.

Entre as principais consequências do assédio, destacam-se: perda de autoconfiança, queda de produtividade, estresse, síndrome do pânico, desmotivação e perda de interesse pelo trabalho, além de ansiedade, depressão, burnout e esgotamento físico e emocional.

Esses são apenas alguns exemplos dos danos causados pelo assédio. Com o tempo, o impacto psicológico e emocional pode corroer a autoestima e a vontade de viver do colaborador. Em casos mais extremos, a situação pode levar a pensamentos suicidas, tornando o assédio no trabalho uma questão de saúde pública e de responsabilidade organizacional.

Como agir em caso de assédio

Algumas atitudes que o colaborador pode tomar caso esteja sofrendo assédio no trabalho:

  • Diálogo

Uma das primeiras ações é expressar de forma clara e respeitosa como você se sente diante da situação. Muitas vezes, se o assédio for não intencional, alertar a pessoa sobre o impacto de seus comportamentos pode ser suficiente para que os constrangimentos ou investidas inconvenientes cessem.

Entretanto, se o agressor persistir após ser avisado, é importante entender que o problema não está mais em um mal-entendido, mas em uma atitude deliberada. Nesse caso, medidas mais formais e sérias precisam ser adotadas.

  • Comunicar à empresa

Em casos de assédio, é essencial que a situação seja comunicada à empresa. Ao fazer isso, você oferece à organização a oportunidade de investigar o ocorrido e tomar as medidas apropriadas para resolver a questão.

Ao denunciar, você não apenas protege a si mesmo, mas também contribui para um ambiente de trabalho mais seguro para os demais colaboradores. Além disso, a empresa tem a responsabilidade de agir para coibir esse tipo de comportamento e evitar que outros colaboradores se tornem vítimas da mesma situação.

Conscientização

O primeiro passo para combater o assédio no trabalho é promover a conscientização. É fundamental que os colaboradores compreendam as diversas situações que podem ser caracterizadas como assédio e saibam identificar essas práticas no ambiente de trabalho.

Identificar o assédio é essencial para que ele seja efetivamente combatido dentro da organização. Nesse sentido, a distribuição de materiais informativos, como cartilhas e guias, pode ser uma ferramenta eficaz na sensibilização dos colaboradores.

A empresa pode iniciar esse processo com palestras educativas que abordem o tema de forma aberta, esclarecendo dúvidas e reforçando a importância de um ambiente de respeito. Além disso, é fundamental fomentar uma cultura de apoio e encorajamento, de modo que testemunhas de situações de assédio não se omitam, mas sim se sintam responsáveis por contribuir para a resolução do problema.

Treinamento

O treinamento é fundamental para a implementação de uma política eficaz contra o assédio, pois capacita os colaboradores a lidar com diversas situações, sempre com respeito e ética no ambiente de trabalho.

É importante lembrar que o assédio nem sempre vem de superiores hierárquicos, por isso, todos os membros da organização devem ser treinados para identificar e agir adequadamente em qualquer contexto. O treinamento deve abranger não apenas como acolher e orientar a vítima, mas também como intervir de forma proativa no dia a dia para prevenir e coibir práticas de assédio.

Canal de denúncias

A organização deve dispor de um canal de denúncias eficaz, onde as vítimas possam relatar comportamentos inadequados de forma confidencial e segura. Esse canal deve ser acessível, acolhedor e garantir total proteção à identidade da pessoa que denuncia. Além disso, é fundamental que os profissionais responsáveis por receber e tratar as denúncias sejam adequadamente capacitados para lidar com a situação de forma sensível e ética.

Regras internas

As regras internas são uma ferramenta importante na prevenção do assédio no ambiente de trabalho. Elas devem ser complementares às políticas antiassédio e aplicadas de maneira uniforme a todos os colaboradores, independentemente de seu cargo ou função na organização. A igualdade no cumprimento dessas regras é essencial para garantir um ambiente de trabalho respeitoso e seguro para todos.

Esteja atento aos sinais

Caso um colaborador ou um setor apresente índices elevados de absenteísmo ou uma redução nas horas trabalhadas, é fundamental que o RH investigue as causas desse aumento. É importante entender se esses comportamentos estão relacionados a questões de clima organizacional, como o assédio, e tomar as medidas necessárias para resolver a situação.

O assédio no trabalho pode causar sérios danos tanto à saúde dos colaboradores quanto ao desempenho da empresa. Por isso, a prevenção é a melhor estratégia para garantir um ambiente de trabalho saudável, seguro e respeitoso para todos. Investir em políticas eficazes, treinamento contínuo e canais de comunicação abertos é fundamental para criar uma cultura de respeito e proteção dentro da organização.

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